“Considera, pois, a necessidade de escutar. Escuta, primeiramente, os ruídos que perturbam a tua alma. Lembra-te, ainda, de que o que vês depende de teu olhar. Aquilo que não vês depende, também, em grande parte, das coisas que não queres enxergar. A qualidade do teu olho diz da qualidade do que tu haverás de enxergar. A maneira como tu percebes diz também do ângulo que se forma entre ti e o objeto que tu estejas a observar. Tu queres enxergar longe quando, primeiramente, deverias enxergar o que há por perto. Tu não podes querer aprofundar uma realidade sem antes, em direção a ela, dares os primeiros passos. Se teu olhar não for purificado, tu não haverás de perceber o que de mais trivial existe ao teu lado. Purificado, teu olhar conseguirá perceber, em largo e em profundo, o que está subjacente a toda fala, a toda ação. Lembra: toda presença cumpre uma função. A tua presença deve revelar o que estiver escondido pela beleza do teu olhar e nunca o desejo de julgar. Tu e aquele a quem julgas participam da mesma humana condição, onde cabe solidariedade e nunca julgamentos, veleidades. Se tu olhas para julgar, a ti mesmo julgas, porque ages pondo-te acima de quem participa da mesma condição e limites humanos de que fazes parte. Quem nos julga é a nossa própria posição pró ou contra a Verdade.” (Pe. Airton Freire)