25 de outubro de 2012
servos da terra

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Aos Grupos da Terra:

 “Elas são herdeiras, com o mesmo direito que vós outros, da graça que dá a vida. Tratai-as com todo respeito para que nada se oponha aos vossos orações”. (I Pd 3,7)

Ponto pacífico é que a vida a dois é uma formação permanente. O que ali se (in)forma também pode, em seu lugar, tornar-se o que (de)forma. A questão da (in)(de)formação na vida de um casal e a transmissão desses conteúdos ao filhos, por exemplo, são conjuntas. Tratando-se de uma experiência que cabe a cada um reinventar, a cada dia, mês e ano, há também a questão da transmissibilidade que poderia ser colocada. Sem dúvida, há continuidade na retomada da motivação primeira de levar vida a dois num projeto comum. Mas é a própria experiência de vida a dois, enquanto conduz à emergência da verdade de cada um ali presente, que é precisamente o conteúdo principal a se transmitir.

Se a aquisição de conhecimentos um do outro aprofundados é indispensável, nenhum modelo preestabelecido poderia definir a forma e o conteúdo da formação, feita na vivência, de que necessita o casal. Essa formação deve responder, de fato, aos objetivos seguintes: permitir aos cônjuges e aos filhos experimentar a lógica do amor incondicional e gratuito a que se devem as mais potentes determinações das condutas humanas; tornar todos da família aptos a reconhecer e a trabalhar as relações transferenciais (raivas súbitas, agressões verbais, saudades, medos, receios, ciúmes…) que comandam as situações em família; conduzir a reconhecer também a natureza intrinsecamente conflituosa da vida entre as pessoas; permitir-lhes, enfim, sustentar o caráter paradoxal de situações de amorosidade ou de conflitos, onde os termos do conflito são para analisar sem pretensão de fechá-lo.

O primeiro tempo de todo conhecimento entre duas pessoas consiste em uma interrogação que se sustenta no dispositivo de uma demanda pelo outro. Na natureza da interrogação, colocam-se a sua história, suas orientações, suas opções intelectuais, sua organização libidinal e as escolhas e marcas da sua vida sexual. Pode-se, assim, reconhecer a singularidade de suas determinações no trato com a outra parte, a força das resistências que se desdobram ao longo da relação e a necessidade de superação.

Essa experiência, embora comum em sua estrutura, é específica na particularidade em que se dá. Ela é a de todos aqueles que se decidem por um projeto de vida a dois. Nada poderia substituir o caminho longo, que é esse aprendizado nascido do encontro. A decisão de cada parte de se engajar numa mesma prática abre sobre ambos um outro percurso.

O segundo tempo do conhecimento é constituído pela prática de poder se verificar a posição um do outro na conduta de determinados acontecimentos, de modo a elaborá-los ou dificultá-los. Essa situação implica e coloca em questão o ter de conviver com o diferente, sob diferentes modalidades. Esse tempo é essencial; nenhuma das partes poderia ignorá-lo. Há para isso que se levar em conta todas as implicações de se levar a sério esse momento. Subestimar ou suprimir essa parte do relacionamento por razões outras, motivos mil, resultaria em alterações futuras pela impertinência de não integrados elementos. Por isso, há que se ater a um objetivo claro a ser alcançado, permitindo-se ficar aberto a mudanças que, eventualmente, ao longo do trajeto, façam-se necessárias.

O terceiro tempo de um percurso de vida a dois é o do reconhecimento. Há que se dizer aqui que o desejo de reconhecimento passa pelo desejo de ter seu desejo reconhecido. Nova a invenção? Não. Tão antiga quanto aquilo a que esse conteúdo faz alusão. Uma dificuldade, contudo, coloca-se aí, então, com particularidade. A dificuldade particular se deve ao fato de que o reconhecimento de uma capacidade de se superar em limites admitidos e se reinventar num novo estilo de vida (sem negar o que se é, mas dispondo tudo em função do que haverão de viver), é algo que nem sempre as partes conseguem entender. Resistências, quebras, rupturas (“dar um tempo”, como se costuma dizer) poderão aí acontecer. O inesperado, que do outro poderá se apresentar, há que se considerar. Pois, cada pessoa, em sua originalidade singular, não é objeto de codificação. Assim, as diferenças, no trato interno do relacionamento, hão de ser objeto de um reexame contínuo.

Finalmente, uma questão ética há de ser colocada.

A ética, na vida de um casal, regula sobre a manutenção de um espaço de liberdade e verdade, onde cada parte possa ser clara no seu desejo que, em situações diversas, será manifesto, num ato de reciprocidade. Essa ética se funda sobre um princípio de alteridade que repousa não apenas sobre o reconhecimento do outro como diferente, mas também e, de princípio, sobre o reconhecimento de um lugar específico, onde se desdobra o que do amor decorre, malgrado mal uso faça-se, não raro, dessa palavra.

Pe. Airton Freire

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