23 de abril de 2018
servos da terra

Primeira Leitura (At 4,8-12); Responsório (Sl 117); Segunda Leitura (1Jo 3,1-2); Evangelho (Jo 10,11-18)

“Viver como ovelha sem pastor significa viver sem ter um referencial estável. E quando na vida de alguém falta um referencial, a dispersão é a consequência natural de toda essa situação. Eu dou um exemplo: se uma criança em casa não tiver um referencial estável, permanente, a partir do qual ela possa se estruturar, a criança crescerá com essa lacuna, essa ausência de inscrição; a criança crescerá na sua estrutura com algo que não possibilita a que ela dê novos passos, dê novos passos numa direção em vista de sua plena realização.

Se o menino, por exemplo, não tiver na casa a figura paterna como referencial estável, e se a mãe não passar para a criança esse referencial, a criança permanecerá entre ela e a mãe numa relação ambígua, numa colagem imaginária, com danos para a própria formação da criança, e a mãe que não consegue recobrir o que a criança necessita para poder desenvolver-se, viver com naturalidade, que é mais do que simplesmente existir.

Quando na tua vida adulta, quando passas por situações de crises, ou mesmo na juventude quando te falta um referencial estável, o que fazer? A quem ou a que recorrer para suprir o que se sente como algo integrante e ali ausente, ali faltante? Naturalmente, há de se buscar elementos secundários para suprir o que o adolescente ou adulto sente não haver em seu ser. E aí as buscas tu sabes aonde podem levar. Tomado por uma falta, o jovem ou adulto começa a demandar sobre coisas, sobre pessoas, que não poderão suprir e nessas demandas, a partir das demandas surgirão as escolhas que poderão levá-las a mais se alienar e até mesmo a se destruir. É assim.

A gente não tem em nosso meio aqui no sertão, a gente não tem a figura de um pastor que vá pelos campos, defendendo ovelhas de lobos, a gente não tem essa figura. A gente tem umas cabrinhas por aí, soltas, ou num curralzinho; a gente não tem essa figura a que Jesus se referia, mas a gente sabe, pela própria situação em que a gente vive, quando não há em casa um referencial estável o quanto isso falta e faz falta pela vertente mais negativa do que a falta possa significar. E o resultado disso tu sabes, é uma desestrutura na própria personalidade. Basta olhar em volta e haverás de constatar.

E tu percebes, as pessoas na falta desse referencial estável, em que elas podem cair. Os jovens, por exemplo, em que podem cair. E adultos, mesmo supostamente bem orientados, quando ficam desorientados, e agora, o que fazer? Alguns procuram criar barreiras, criar resistências até para se proteger, mas criam uma armadura, criam uma capa de impermeabilidade que não permite flexibilidade em situações, por quê? Pela insegurança, pelo medo do que o novo possa lhe trazer. Adultos presumivelmente bem estruturamos. Alguns procuram suprir com outras coisas, suprir com outras coisas, e nisso podem se perder, acreditando terem se achado. Assim tem sido, assim tem acontecido.

Vocês percebem lobos que se passam por pastor, lobos que se passam por pastor, e qual o interesse? O interesse é na lã das ovelhas, é na carne das ovelhas, é no sangue das ovelhas. Sangra, sangra as ovelhas, tira até o que não pode mais dar, porque as ovelhas estão atordoadas, desorientadas, tomadas por uma grande falta que causa um desequilíbrio e encontram em lobos disfarçados presa fácil para dominar. Isso também é fácil de perceber, é muito fácil de perceber.

O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas, não tem interesse na lã, nem na carne, nem no leite das ovelhas. Pelo contrário, ele propícia às ovelhas oportunidades de que elas possam crescer, desenvolver, esse é o Bom Pastor. Gasta a vida inteira pelas ovelhas para que elas não venham a se perder. Esse é o Bom Pastor.

Olhando para tais figuras, vocês poderão muito bem seguir, muito bem lhe seguir. Os jovens poderão muito bem discernir quem, aproveitando-se de sua carência, pode levá-los a perdas a perderem-se de vista. E quando se dão conta é tarde, infelizmente.

Feliz o adulto, feliz o jovem, feliz a criança, que tem um referencial estável, alguém que possa estar junto, com quem possa contar. Alguém que, em cuja fala ele se reconhece, se redescobre e faz sentido para sua vida avançar, não recuar. Feliz aquele que tem na vida um referencial estável ao qual possa se reportar em suas dificuldades, em suas ansiedades, suas perdas, angústias, medos, suas… tantas coisas com as quais a vida nos tem marcado. Feliz quem tem um Bom Pastor, feliz quem tem um bom referencial. Feliz aquele que tem a Deus como seu Senhor, pois com certeza Ele providenciará, a depender de tua vontade, que não venhas tu a te desviar em tuas faltas, em tuas carências, que não te percas em meio ao mundo de tantos interesses, de mercenários tantos transformados, travestidos de bondade, mas com interesse pessoal, pessoal, tão somente pessoal, o que leva a ovelha a se iludir, a cair, a se perder. Portanto, hoje sendo o dia do Bom Pastor, abre os teus olhos, os teus ouvidos, fica atento e não te deixes enganar. O Bom Pastor é aquele que dá a vida a vida inteira pelas suas ovelhas, vai à frente e não deixa o lobo se aproximar.

E é pela vida do Pastor que tu conheces se na verdade ele é amigo das ovelhas ou lhe é contrário; se ele é do lobo um aliado ou se ele defende as ovelhas, fazendo-as crescer, dando-lhes na vida oportunidade. Esses são os critérios pelos quais tu podes distinguir se é falso ou se é verdadeiro quem traz o nome de Pastor, sobretudo se ele estiver muito interessado em te dirigir. Se ele estiver muito interessado em te dirigir, se ele der amostras de que tem interesse em algo que há em ti, algo que tu lhe possas dar, desconfia mesmo que se apresente como bom pastor, pois o Bom Pastor de ti nada lhe interessa senão que tu sejas feliz, que tu possas manter a alegria de viver. A alegria do Bom Pastor é te ver crescer, e que não sejas presa de nenhuma fera, de nenhum lobo, nem de ti mesmo, dos teus próprios medos, mas que liberto tu vivas o novo tempo. E não poderia ser diferente, pois o Bom Pastor caminha ao lado da ovelha, e para defendê-la se preciso, vai à sua frente.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo.”

(Pe. Airton)

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