“Tu falas daquilo que consegues ver, porque, falando do que consegues ver, ao falar de mim, estarás falando, também, de ti (pelo menos do lugar em que tu consegues e podes viver ou te permites ser!). Então, ao dizer de mim, tu dizes da posição, do espaço que entre ti e mim pode se estabelecer. Razão para isso há? Pode haver? Há de se ver, mesmo que enxergar não estejas querendo, tampouco disso saber. Considera que tudo o que disseres do outro, mesmo que te pareça surpreendente, é o resultado do ângulo do teu olhar para a posição daquele que, diante de ti, está, pois o teu olhar pode capturar, do outro, coisas que, de outro ângulo, tu poderias, diferentemente, enxergar. Por isso, aquele que fala deve estar também preparado para escutar, e se, na fala, houver um desejo de acertar, com certeza, a um porto seguro, ao invés de a um ponto obscuro, haverá de chegar. Nem tudo se passa do lado de lá, nem tudo se passa do lado de cá. A questão está em saber em que ponto destas duas margens tu estás.” (Pe. Airton)