Queridos filhos e filhas da terra, queridos Grupos da Terra em todo Brasil e no exterior,
No próximo domingo nós estaremos celebrando o Batismo do Senhor. Será um momento forte para toda a nossa espiritualidade porque, ela tende a Cristo que, é de Deus a Sua suprema verdade. Se nós fomos verdadeiros em tudo o que fizermos, estaremos por inteiro. Consagrar-se a Verdade é fazer jus ao nome que trazemos no carisma que de Deus recebemos e, no desejo de viver a transparência como traço que nos identifica em todos os nossos atos.
Em Cristo consagrados, Verdade plena do Pai por nós revelada, testemunharemos ao mundo inteiro a Verdade do que nós acreditamos e, quantos de nós vierem a conhecer, saberão pela Verdade que vivemos a razão pela qual viemos, pelo nosso estilo de ser.
Deste servo e Padre, o Padre Airton Freire.
Ato de Consagração no Dia do Batismo do Senhor
“Pai Santo, eu me consagro à Verdade em Teu nome.
A Tua Palavra é a Verdade.
Santifica-me na Verdade.
Envia-me, depois, ao mundo, e nada mais quero nem desejo senão que se cumpra em mim TUDO, segundo a Tua Vontade.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Muito Amado, em Unidade com o Espírito Santo. Amém.” (Ato de consagração a ser feito no Dia do Batismo do Senhor)
Caríssimos filhas e filhos da Terra, eis o texto de meditação no dia de nossa Consagração à Verdade:
Do Sermão sobre a Santa Teofania, atribuído a Santo Hipólito, presbítero
(Nn. 2. 6-8. 10: PG 10, 854. 858-859. 862)
(Séc. III)
A água e o Espírito
Jesus veio até João e foi batizado por ele. Ó fato realmente admirável! A torrente infinita que alegra a cidade de Deus é lavada por um pouco d’água. A fonte inesgotável e perene que gera a vida para todos os homens é coberta por um pequeno e passageiro curso d’água. Aquele que está presente sempre e em toda parte, que é incompreensível aos anjos e invisível aos homens, vem receber o batismo por sua própria vontade. Então o céu se abriu e fez-se ouvir uma voz que dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado’ (Mt 3,16.17).
O amado gera o amor e a luz imaterial, a luz inacessível. É este o que chamam filho de José e é também meu Filho único segundo a essência divina. Este é o meu Filho amado. Tem fome e alimenta multidões inumeráveis; afadiga-se e alivia os fatigados; não tem onde reclinar a cabeça e tudo sustenta com suas mãos; sofre e dá remédio a todos os sofrimentos; é esbofeteado e dá liberdade ao mundo; transpassam seu lado e ele cura o lado de Adão.
Prestai-me toda a atenção: quero acorrer ao manancial da vida e contemplar a fonte de onde jorram os remédios da salvação. O Pai da imortalidade enviou ao mundo seu Filho imortal, seu Verbo, que veio ao encontro dos homens para purificá-los na água e no Espírito; e a fim de gerá-los novamente para a incorruptibilidade da alma e do corpo, infundiu-nos o Espírito de vida e revestiu-nos com uma armadura incorruptível.
Se o homem, pois, tornou-se imortal, também será divinizado. E se de fato é divinizado pela água e o Espírito Santo, mediante o banho da regeneração, também será herdeiro com Cristo depois da ressurreição dos mortos. Por isso proclamo com voz forte: Vinde, nações todas, ao batismo que confere a imortalidade. Esta é a água, unida ao Espírito, que irriga o paraíso, fertiliza a terra, dá crescimento às plantas e faz os seres se reproduzirem. Em resumo, esta é a água pela qual os homens recebem nova vida, com a qual o Cristo foi batizado e sobre a qual o Espírito Santo desceu em forma de pomba.
Quem desce com fé a esse banho de regeneração, renuncia ao demônio e entrega-se a Cristo; renega o inimigo e proclama que Cristo é Deus; renuncia à escravidão e reveste-se da adoção filial; sai do batismo, resplandecente como o sol, irradiando justiça; e mais que tudo isso torna-se filho de Deus e herdeiro com Cristo. A ele a glória e o poder, com seu Espírito santíssimo, bom e vivificante, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos.
Amém
Interrompo este retiro de silêncio, em quase final de tarde. Tenho algo a partilhar contigo. Hoje pela manhã, morreu um pequeno parceiro em nossa capela onde estava eu pregando um retiro.
Quanto a isso, nada de extraordinário. Milhões de pássaros, grandes ou pequenos, nascem e morrem, pelo mundo inteiro, todos os dias. Este, contudo, bem pequeno, entrou no espaço onde estávamos e ficou, logo de início, debatendo-se, procurando uma saída. Dessa mesma forma, milhões de pessoas – quais pássaros – pelo mundo inteiro, entram em espaços onde não pensaram e debatem-se, depois, procurando sair.
De onde eu estava, olhando o pequeno pássaro, comigo mesmo pensava: “se, ao menos, ele “descesse”, encontraria uma saída.
Inútil.
O pássaro insistia em ficar nas alturas.
Eu pensava: “quem o ajudaria a “descer”, afim que uma saída ele encontrasse, já que, sozinho, não poderia”?
O dia se passou.
Dois dias se passaram.
O pássaro, debatendo-se contra a parede continuava.
Enfraquecia-se.
Mesmo assim, o pássaro não “descia”.
Passei a pensar em várias pessoas que eu conhecia. Também sofriam.
Somente depois de aprisionadas é que percebem a liberdade que, antes, possuíam. Mas, o pássaro, com certeza, isto não entendia.
Contra a tela que protege as janelas do alto da capela o pássaro continuava a debater-se e, visivelmente, enfraquecia-se.
Inquietava-me vê-lo. Em mim, um pensamento insistia: “porque ele não descia? Tão mais fácil seria”! Ficar no alto sempre, sem olhar para baixo, sem procurar saída, como é difícil!!!! Mas, isso ele não via.
Em gestos repetitivos, debatia-se.
Por fim, já sem forças, o pássaro caiu. Levantou-se tropegadamente.
Foi acudido por um servo,Vinicius e por uma serva, Aninha. Levaram-no para fora da capela, colocaram-no no jardim da Casa de Retiros.
Deram-lhe água e comida.
Era visível sua ferida.
No final da manhã de hoje, em virtude de ferimentos e fraqueza, o pássaro falecia. Sofri.
Pensei, de imediato, em algumas pessoas que, há muito tempo já não via.
Continuava eu apesar: “porque lá do alto ele não “descia”? Eu estaria à sua espera para ajudá-lo.
No uso de sua liberdade, somente fazer por ele mesmo – como dar o primeiro passo – só ele mesmo poderia.
Enfim, enfraquecido sem ajuda (teria eu,em algum momento, me omitido? Teria ele percebido que a ajudá-lo eu ali estaria?)
Quanto esse pensamento quanto doía!
Mas, o pássaro se foi.
Outro ainda viria? Se viesse, da próxima vez como seria?
Sei que milhões de pássaros nascem e morrem todos os dias.
Aquele para mim era único, foi único.
Nunca mais, outra vez, com vida eu o veria! Esse pensamento mas ainda me doía!
É quase final de tarde. Interrompo, exatamente, o retiro de silêncio para partilhar contigo a dor que sinto:
“Porque ele não percebeu que junto a ele eu estaria? Bastaria que ele “descesse” e, na base, me encontraria.
Estou triste!
Teu servo
In Christo
Padre Airton
Nem sempre aquilo que tu dizes “deve” é um comando inevitável que terei de executar. Se disseres “deve”, eu pensarei se é possível. Se tu disseres “vai” eu penso: se não queres, através de mim, que eu vá contigo. Se quando tu dizes “ amo”, considero, primeiramente, que tu amas em mim mais do que a mim. Se tu me queres como suporte, como aporte do que, de freqüente, não consegues falar, eu me pergunto: por que isto tem que continuar? Por isso, é preciso prestar atenção onde o querer não coincide com o desejar e onde o querer e o desejar de mãos dadas podem estar; do contrário, nós nos enfrentaremos, embora nos amando e, mesmo nos querendo, não nos entenderemos.
Pe. Airton Freire
(Texto do Livro “Querer e Desejar”)