15 de abril de 2014
servos da terra

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“Mulher, eis aí o teu Filho; Filho, eis aí tua mãe.” (Jo 19, 26-27)

Pe. Airton Freire, Livro “Sete Palavras”

A minha mãe esta posta aos teus cuidados para que, por ela, possas zelar. A minha mãe está posta aos teus cuidados para que, com amor filial, queiras tu honrá-la, respeitá-la, tê-la na devida conta.

Filho, eis aí tua mãe, porque como mãe ela poderá de ti cuidar, velar, zelar. Mãe e filho estarão juntos, porque filho sem mãe não há; mãe sem filho não existe também. Para existir um filho teve de haver uma mãe. A mãe se constitui mãe ao ter um filho também. Isso está na ordem da criação. Por isso, sem mãe não quero te deixar.  Mãe, também, sem um filho não poderá ficar. Este é um desejo que parte do meu coração e que, ao longo dos séculos, haverá de acompanhar. Onde houver minha mãe, haverá, também, filhos e no meio dos filhos estará presente minha mãe. Ela te ensinará a falar. Ela te ensinará a dar os primeiros passos neste novo tempo que passarás a viver. Ela te ensinará a fazer tudo o quanto eu te disser, porque ela foi a primeira a realizar, serva que é, a vontade do Pai que nela se fez, a que ela quer também te ensinar.

A minha mãe foi a primeira a receber a palavra em seu ventre, a primeira a dá-la ao mundo; foi a primeira a acolher o Verbo que se tornou carne. A minha mãe foi a serva por excelência, a bem aventurada, aquela de quem, em todas as gerações, haveriam de lembrá-la como bendita, aquela em quem o Pai fez maravilhas, aquela que era cheia de humildade. Ela, que outra coisa não possuía senão graça, aquela que, por inteiro, ao Pai se consagrou, porque muito amou, porque muito confiou, embora nem tudo entendesse, embora nem tudo compreendesse, assim como tu nem tudo podes entender, ao menos perceber até onde vai a profundidade, a largura, a altura do mistério que há em Cristo Jesus, luz da luz, Deus de Deus.

A virgem poderá te ensinar sobre a Palavra, porque, no seu coração, ela guardava as palavras que ao filho se referia e nelas punha-se a meditar.

A minha mãe contigo estará porque foi reconhecida já por Isabel como “mãe do meu Senhor”. E que à sua palavra, estando ela grávida do Espírito, a criança no ventre de Isabel estremeceu. A mãe comunica a Palavra, a mesma que o Pai lhe deu. Ela contigo estará. Serás para ela um filho; ela será para ti uma mãe.

Nessa caminhada, precisas de sua companhia e ela, sendo a primeira serva do Senhor, por seu modelo de vida, por sua intercessão, contigo caminhará até o encontro definitivo, aquele que te está reservado, aquele do qual não te furtarás. O Pai marcará o momento; mas, enquanto viveres neste mundo, vale de lágrimas ou sofrimentos, a minha mãe, que fugiu comigo para o Egito, também a lugar seguro te levará. Ela te protegerá. Se vieres a te perder, ela te procurará, assim como aflita me encontrou no Templo, Se vieres a cair, se fores largado, ela ali estará. E no último instante de tua vida, de pé, ali ela permanecerá. Ela te assistirá do nascimento a teu último momento.

Filho, eis aí tua mãe. Com isso, quer lhe dizer: não queiras dela te afastar. Mãe, tu tens um filho; cuida dele, preserva-o, protege-o. Ele de ti vai necessitar, ensinar-te a amar o Pai, ensinar-te a honrá-lo, respeitá-lo, reverenciá-lo, ensinar-te a não desistir. Essas coisas ensinou a mim.

A minha mãe – eu quero – que possa te acompanhar. Por razão nenhuma queiras dela te afastar. Ela está associada a mim desde o momento da encarnação até o momento supremo em que me entrego ao Pai na cruz. A minha mãe comigo esteve,  tem estado contigo também. Estará discreta, suave, doce, mansamente; mas, ao mesmo tempo, tão decidida e corajosamente firme, tão fiel. Esta é a mãe que quero te dar. Esta é a mãe que te dou e cujo modelo deixo para que possas contemplar. Minha mãe, Maria, esta é a que quero te dar.

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14 de abril de 2014
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14 de abril de 2014
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12 (2)

“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15, 34)

Pe. Airton Freire, Livro “Sete Palavras”

Por que às mãos de algozes me entregaste? Eu que inteiramente me entreguei a ti. Eu que tão somente por ti vivi e que ao mundo ensinei tão somente o que de ti aprendi. Em teu nome foram operados sinais, os cativos foram libertados, a boa nova aos pobres anunciada, o ano de graça foi anunciado. Tu que sempre me ouvias, tu que sempre escutavas, tu que sempre me atendias, por que agora, então, me abandonaste? Por que essa solidão tão grande em meu coração?

Se todos tivessem me deixado, se todos tivessem me largado, grande peso nisso não faria, mas tu, meu Pai, tu por quem vivi, com quem junto a ti sempre estive desde toda a eternidade…

Como homem me formaste, ao mundo me enviaste. Pai, por que me abandonaste? Agora riem de mim, caçoam de mim. Minhas vestes puseram à sorte para saber de quem será. Feridas em meu corpo trago, espinhos na cabeça a não suportar. Sinto sede, sou insultado, à morte fui condenado. Pai por que me abandonaste?

O que mais dói no abandono é a ausência de quem  tanto se ama. A alma pela presença geme e reclama. Por que não estás aqui? Por que me tratas assim? O que queres de mim? O abandono é mais doloroso porque para isto eu nasci, para este momento eu vivi, aos meus fui enviado, pelos meus próprios fui rejeitado, por que me abandonaste? É verdade que disseste pela boca dos teus santos profetas que, uma vez suspenso no madeiro, atrairias todos a mim. É chegado o momento em que estou crucificado, atado, amarrado. Eu, que vim trazer a liberdade, estou sem poder sair. O corpo está chagado, eu que tantas chagas curei, aos olhos do cego abri, mortos ressuscitei. Insultam-me os que estão em meu derredor, este que está ao meu lado. Dizem: salvou a muitos, por que não salva a si? Que eles possam me abandonar, que eles possam não me compreender, há de se entender, mas o teu abandono é de não poder compreender, nem suportar, é dor que me fere a alma e, por isso, eu ouso perguntar: por que me tratas assim? Como um cordeiro levado ao matadouro, mudo, tosquiado eu sou levado.

Em mim recai o peso de uma multidão de pecados. Eu, que nem um deles cometi, por todos sou culpado, entre os quais pude me fazer igual a ti e, na verdade, tu e eu somos um, não posso negar, não posso mentir. Sei que se aproxima a minha hora e que deverei partir. Sei que teu nome será glorificado. Este cálice beberei até o fim, mas a minha natureza grita por dentro, me abandonaste por quê? Quem me vê não pode compreender, tampouco me reconhecer, tão desconfigurado estou, tão traspassado de dor, tão isolado.

Por mutidões seguido, agora só crucificado. Por que me abandonaste? Mas, se tenho de pagar este preço, que ele seja pago. Nasci e vivi para fazer tão somente a tua vontade esta eu cumprirei até o fim. Se assim tiver de ser, que seja assim. A minha alma é tomada por uma grande solidão. Sinto-me no limite de minhas forças, à exaustão. Não há como prosseguir. Dóem-me os membros. Estou cravado. Meu corpo exangue. Com o lenho ferido, no madeiro da cruz, como um mal feitor considerado e condenado.

Por que me abandonaste?

Ouso te perguntar novamente, querendo saber, ao mundo dado em espetáculo, por que me abandonaste? Se estivemos sempre em tamanha união, se sou teu Filho predileto, no qual tu puseste toda a tua afeição, se, ao me conceber, a minha mãe sabia que de ti procedia, que a tua vontade neste mundo deveria realizar, do nascimento à morte.

Por que me abandonaste?

Quem pode entender? Quem pode compre-ender? A múltiplas graças, na plenitude da graça me fiz e, agora, reduzido ao nada, eis que estou. Próximo a minha partida para junto de ti, eis como me encontro. Pesa sobre mim do mundo, todo o seu  peso em meus ombros.

Estou entregue, entregue a ti.

Me abandonaste. Me abandonaste. Preciso repetir. Estou ferido. Por que me abandonaste?

Eis-me aqui.

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