P’ra se ver o que a renúncia de um papa provoca! Essa história de “disputas interna” é antiga. Imagina!

Tu sabes, lá atrás, bem antes dos tempos de agora, um punhado de homens haviam “deixado tudo [1]” para seguir Jesus. Considera bem isto: haviam “deixado tudo”. Contudo, depois de três anos de convívio com o Senhor, ao ser interpelado acerca do que “discutiam pelo caminho [2]”.  “Eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior [3]”. Hás de te perguntar: Por que não estava incluído no “tudo” a que tinham renunciado o querer ser “o maior”? Imagina tu: eles todos estavam seguindo “O Caminho [4]”. Não eram apóstolos? Não seguiam o Mestre? O que, então, lhes faltava? Ou melhor, de que falta se trata? Mas, continuemos com esta história de crise. Voltemos. Lá nos primórdios. Disputa existia? Como e por quê? Antes, houve algo semelhante? Sim! Onde há gente, há o que se ver e de que se falar.

Os discípulos (ao menos, explicitamente, dois deles) queriam ficar “um à direita; outro a esquerda [5]” de Jesus. Não queriam nada! Imagina! Haviam largado “tudo”. Contudo, havia, dentre tantas questões, uma questão, uma ser resolvida:  a questão do lugar. Sim! Do lugar que cada um ocupa no desejo do Outro. É disso que se trata em todo o ser humano que vive e deseja. Repito, é do ser humano. Não privilégio de cardeais em Roma. Enquanto o sujeito não tiver claro seu lugar, ele fará demandas em razão da falta que o acompanha. Eu te dou uns exemplos ( já “naquele tempo”- “in illo tempore!”) Não te lembras da passagem? Foi bem antes de cardeais existirem!!! Eram apóstolos mesmos! Quanto a quem teve a “feliz idéia” de se aproximar de Jesus para tratar da questão de lugar, divergem os evangelistas. Marcos diz que foram os próprios discípulos, “Tiago e João, filhos de Zebedeu [6]”. Mateus diz que foi a mãe dos dois. Nisso ele explicita que o desejo da mãe antecede o desejo do filho. Faz tempo, oh!!! Antes de se fazer o pedido, “aproximaram-se e adoram [1]”. Adorar para, depois, fazer o pedido. Interessante, não é? E qual o resultado dessa pretensão? A divisão entre os apóstolos, que reprovaram tal atitude [2]. Fácil, não é? Humanos somos! É assim! Admirar-se de quê? Admirar-se se isto não ocorresse entre humanos. Ficou só nisso? Não! Reclamações já tinham chegado a Jesus acerca da pouca fé dos seus seguidores [3]. Vê bem! Elas não conviviam com qualquer pessoa. Era com o próprio Jesus! E haja tolerância! Pense! Foi só isso? No final, eles, que haviam “deixado tudo”, resolveram deixar o mestre. Interessante, não é? Literalmente, fugiram “todos [4]”. O que é isso que permeia as relações humanas? O que é isso “que não tem vergonha, nem nunca terá, o que não tem juízo? [5]” “Isso” não é patrimônio de Igreja nenhuma. Isto é humano e, como tal, há que ser considerado. Existe esta realidade, tão antiga quando humana, que é a questão do “lugar” e do “desejo” humano, e isso remetente, por sua vez,  a um outro significante,  qual seja, o poder. Poder de ter ou de ser o poder. Repito: é do humano, mesmo entre aqueles que “haviam largado tudo”.

Mas, só agora, descobriu o jornal  “O Estado de S.Paulo”, que a Igreja Católica “está em crise” e publica que  “uma disputa interna de poder praticada por ex-aliados, nos últimos meses, pode ser uma das razões para a tomada de decisão do pontífice [6]”. Fala-se em “rio de lama”. Mas, quem? Desde quando? Bem antes, meu filho! Desde que a falta circula entre nós. E haja nós! Imagina que os seguidores,  os que haviam “largado tudo” falavam mal daquele que cuidava das finanças!  Do Vaticano? Não! Dos que seguiam Jesus mesmo! Sabias não? Antiga história. Acusações havia entre eles contra que não dizia o que fazia e que fazia o que não dizia [7]. Então, o “problema” não  é papa nem Vaticano. Está em outro lugar. Uma questão de lugar, pois.