Já observaste que certas plantas no sertão, da família das xerófilas, secam a parecer estarem sem vida, a cada prolongado verão? Já notaste seu poder interior de florir, dias após a chuva cair? O verde de que se recobrem lembra-nos o perdão, o esquecimento, o seguir em frente, adiante, após desencantos, frustrações e descontentamentos. O coração embrutecido, alma como que ressequida, darão, de novo, sinais de estarem vivos. Se sobre eles soprarem brisa ou aragem; se chuviscos ou chuvas lhes tocarem, goejarem-lhes, inundarem-lhes e puserem fim, pelo ato sua passagem, à longa estiagem.
Pe. Airton Freire
(Texto do Livro “As Quatro Estações”)
“Tua divindade, encontrando a minha humanidade, eleva-me a natureza e faz-me viver na grandeza do que tu és.” (Pe. Airton Freire)
“Em tempo de aridez, nossa alma geme e sofre e, com gemidos inexprimíveis, busca a água que possa lhe saciar a sede, como a terra seca precisa de água no sertão. O prolongamento da estiagem é momento que faz sofrer. Sofre quem não tem e tem que ter pra dar; sofre quem, mesmo tendo, não sabe do bem e da alegria que acompanha quem partilha, quem sabe dar. Sem humilhar.
Na aridez, precisamos ser constantes; tanto quanto o temos sido, tanto quanto já o formos antes. Na aridez, setimo-nos completamente sós, embora sós nunca estejamos. E, quando a falta é, por demais sentida, quem se lembra do bem que faz não se preciptar quem considera que, assim como veio, a aridez passará?”
Pe. Airton Freire
(Texto do Livro “As Quatro Estações”)