“Senhor, em tudo engrandeceste e glorificaste o teu povo; sem deixar de assisti-lo, em todo tempo e lugar o socorreste” (Sb 19, 22).

A cada pessoa é dada, na vida, uma oportunidade para que possa refazer o que tiver feito, por uma orientação à sua vida, em vista de um chamado. Cada pessoa sente, no coração, quais caminhos está trilhando e sabe, pela luz que lhe dá o Senhor, se corresponde o caminho trilhado à vocação para o sentido maior que lhe tenha feito, até ali, ter chegado.

Enquanto estamos fazendo uma caminhada, é possível refazer certos pontos. Algumas coisas poderão ser refeitas, e outras, uma vez realizadas, deixam marcas que, dificilmente, poderão ser trabalhadas. Por isso, antes de retificar, melhor é prevenir. Melhor ainda é discernir acerca do posicionamento mais sensato a se tomar.

Na vida, terás várias oportunidades. Uma nova chance, algum dia, contudo, ser-te-á negada. Marcas estás deixando ao longo de tua caminhada. Inscrições estão sendo tomadas, e uma transmissão está também sendo feita. Pelas vertentes positiva ou negativa da questão, teus atos serão de afirmação ou de negação. Negar ou afirmar, eis a questão.

Se tiveres de negar, que seja em vista de um bem em que isto resultará. E se tiveres de afirmar, que seja em prol da verdade, pois só ela resplandecerá. E se tiveres que seguir, que tenhas claro, primeiramente, aonde queres ir. E quando quiseres voltar, lembra: que seja para recuperar o que inacabado tenha restado. E se tiveres de fazer uma parada, que seja para recuperar-te ao longo de uma caminhada. E se tiveres de fazer uma cisão, que seja para marcar um tempo em que tenhas concluído tua missão. E se tiveres de mudar, que seja para melhor. Quando tiveres que discordar, que seja para que o outro possa ver mais claramente, ao menos, o teu pensamento, a tua verdade de forma transparente e, se possível, ajudar. Lembra-te, contudo, de que tudo o que vieres a apresentar poderá ser passível de aceitação ou de recusa. Todavia, que isso não seja determinante para que persistas ou desistas. Vale a coerência do teu pensamento, aquilo que dá sentido à tua vida em todo e qualquer empreendimento. Assim, abençoado haverás de ser. Vindo a errar, poderás retificar; vindo a cair, poderás te levantar; vindo a sofrer, poderás um sentido para isto encontrar. Negando ou afirmando, indo ou voltando, chorando ou alegrando-te, cindindo ou integrando, tudo só fará sentido à medida que, por uma doação pessoal, por ti mesmo se fizer marcado.

Pe. Airton Freire

“Porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, não será nada, se lhe falta a Sabedoria que vem de vós” (Sb 9, 6).

Existem coisas que foram sentidas, mas nunca foram comunicadas. Existem algumas coisas que foram pensadas e nunca suficientemente expressas em atos nem em palavras. Todavia, o que verdadeiramente um dia tiver sido experimentado ou experienciado, por alguma via se tornará conhecido (não poderá ser ocultado), e, no olhar, numa forma de ser, numa maneira de se portar, numa maneira de lidar, em algum ponto, há de se ver onde o elemento esteja cifrado, consignado. Mas, por mais que, de alguma coisa, possas tu falar, jamais poderás dizer, plenamente, aquilo que foi intento teu primeiro comunicar. Ficará sempre algo por se dizer depois que tudo tiver sido falado, porque a fala jamais recobre todo o sentido de algo que verdadeiramente tenha sido experienciado. Eu não disse “experimentado”: experimentado diz respeito ao experimento, avaliado, contado, medido, pesado; “experienciado” diz respeito ao que envolve o ser nas instâncias mais profundas, onde não se tem entrada e não há como dizer, não há como expressar.

Em algum ponto, há de se ver que, se não tiveres unidade interna, em conflito estarás com o meio circundante e desintegrado, também, haverás de perceber aqueles que contigo vierem a conviver.

A desintegração interna se revela, sobretudo, por não se ter a direção certa de onde se queira chegar e também na indecisão profunda de não se saber se, ao tomar tal decisão, fez-se a melhor opção. E, assim se prosseguindo, grande desgaste ao longo da caminhada vai surgindo, a ponto de não se ter o que fazer para melhor progredir.

No atual momento em que estás vivendo, precisas, naturalmente, conhecer elementos pertinentes ao que te esteja a acontecer, mas, sobretudo, hás de ter sabedoria para ter a medida certa de como retamente proceder. Não se trata de formar uma opinião sobre determinada situação; trata-se de efetivar o para quê do que te faz viver. Precisas de sabedoria, por se tratar da realização de um plano que antecede a tua própria vontade, pois já nasceste numa estrutura que te comporta, que te contém e que, em alguns momentos, percebes ter que ultrapassar. Sabedoria é dom dado pelo teu Pai que está nos céus e que se mantém em ti pelo bom uso que dela fizeres, no desejo permanente de querer acertar. A sabedoria pervade todo conhecimento, quando este se faz no intuito de realizar o bem tão somente.

Antes de fazer, procura conhecer e, bem antes de conhecer, busca a sabedoria para que ela te guie, e a obra que iniciaste a bom termo possa realizar, mesmo que isto tu próprio não consigas ver.

Pe. Airton Freire

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Ec 3,1)

Há pessoas que fazem da espera um motivo para se fortalecer e saber como bem administrar o que lhes venha a acontecer. Há pessoas que fazem da espera o momento de se desesperar, de enfraquecer a esperança e de dizer que solução para determinada situação não há. Há pessoas que, na espera, tornam-se providentes, previdentes: tomam providências e se previnem acerca do que virá. Há outras que, contrariamente, pensam em desistir e, não pondo fé na esperança, desistem daquilo que há de vir. Pessoas assim há, sempre houve e sempre haverá.

É preciso que, de tua parte, descubras de que lado tens estado ou poderás estar, pois, se, eventualmente, tua fé se sentir enfraquecida, acredita: eventualidades acontecem na vida. O que não podes é, sistematicamente, duvidar, como se o Senhor não fosse fiel às suas promessas e, apesar de tua fraqueza, não pudesse Ele sua obra em ti realizar. Cada dia que vives é uma chance a mais que o Senhor está a te dar. Por isso, mesmo que pareça longa a espera, faze dela uma forma de fortalecer-te para que, quando a graça vier a acontecer, saibas tu espaço lhe dar. Do contrário, pode ocorrer que, relaxando na vigilância e sendo tomado de certa ânsia, percas o traço necessário a toda espera: ser constante. Vindo isto a acontecer, todo o tempo da espera virá a se perder. Está em ti ser previdente ou imprevidente, prudente ou imprudente, consequente ou inconsequente, acerca do que estás vivendo e do que tens ainda a realizar.

Pe. Airton Freire