1 de maio de 2015
servos da terra

11“O Senhor não vê como o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor vê o coração” (1Sm 16, 7).

De que te adiantaria a outros repetir o que de outros ouviste desde longo tempo até aqui, se teu coração, contínua e insistentemente, permanece longe de viver este teu atual momento? De que te adianta repetir ditos de muitos dizeres, se, antes, não é preocupação tua assumir e expressar, na própria vida, por atos consequentes, a verdade do que a ti se tem anunciado insistentemente? Para que aprender a dizer palavras, construir frases que podem até comover, se em tua vida há tantas reticências em assumir, definitivamente, a verdade de uma forma clara e plena, como a um discípulo convém fazer? De que adiantaria poder falar bem alto o que a ti e a outrem bem alegra o coração, se, em tempos de provação, não tens permanecido em serenidade, como convém aos que tão somente não confiam em sua humana capacidade? Se o tempo da provação, na verdade, não te tem purificado, mas revoltado; se, em razão disso, tu te sentes aquém do esperado, faço-te um pedido: recompõe-te, volta aos trilhos e muito mais por ti ainda se fará.

Considera, pois, a necessidade de escutar. Escuta, primeiramente, os ruídos que perturbam a tua alma. Lembra-te, ainda, de que o que vês depende de teu olhar. Aquilo que não vês depende, também, em grande parte, das coisas que não queres enxergar. A qualidade do teu olho diz da qualidade do que tu haverás de enxergar. A maneira como tu percebes diz também do ângulo que se forma entre ti e o objeto que tu estejas a observar. Tu queres enxergar longe quando, primeiramente, deverias enxergar o que há por perto. Tu não podes querer aprofundar uma realidade sem antes, em direção a ela, dares os primeiros passos. Se teu olhar não for purificado, tu não haverás de perceber o que de mais trivial existe ao teu lado. Purificado, teu olhar conseguirá perceber, em largo e em profundo, o que está subjacente a toda fala, a toda ação.

Lembra: toda presença cumpre uma função. A tua presença deve revelar o que estiver escondido pela beleza do teu olhar e nunca o desejo de julgar. Tu e aquele a quem julgas participam da mesma humana condição, onde cabe solidariedade e nunca julgamentos, veleidades. Se tu olhas para julgar, a ti mesmo julgas, porque ages pondo-te acima de quem participa da mesma condição e limites humanos de que fazes parte. Quem nos julga é a nossa própria posição pró ou contra a Verdade.

Antes de julgar, convém observar a qualidade do teu olhar, pois o teu olhar consegue enxergar somente a partir do ângulo formado entre o objeto a ser observado e o lugar a partir do qual tu estabeleces a observação. Nem tudo cairá sob a tua percepção. Parcial é tudo quanto tu percebes do muito que te escapa. Portanto, nem tudo vês de tudo o que do outro lado está.

Assim tem sido. Assim será.

Pe. Airton Freire

1 de abril de 2015
servos da terra

1“Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14, 23).

Realidades distintas são: moradas e casas. Concernente às moradas – muitas que são – que dentro de nós existem, há que se considerar instâncias adequadas e inadequadas que se revelam pela harmonia ou desarmonia que causam em quem as traga consigo. Tais instâncias cooperam ou resistem à graça, resultando em superação ou fixação de determinados entraves.

Moradas não são casas; são espaços da alma. Quando as moradas estão com a Verdade desalinhadas, difícil espaço passa a ser o da própria casa, onde mais se revela, pelo convívio, a forma genuína que cada um tem de ser.

A vida inteira, estamos saindo e voltando para casa. De casa, partimos; para casa, voltamos. Um tempo passamos fora de casa, de nossa própria casa. As moradas, por sua vez, são realidades que nos acompanham, dentro ou fora de casa, onde quer que estejamos. O que habita as nossas moradas, permitimos ou elidimos, e a isso nem aludimos. Decidimos.

Assim como o nosso nome é realidade que construímos ao longo dos anos, e isso nós é que decidimos, em construção contínua a realidade de nossas moradas nos acompanha enquanto de casa saímos e voltamos. Casas podem ser reformadas. Sua estrutura, contudo, permanece por gerações inteiras, malgrado os riscos de ser trincada. Estrutura comprometida é aquela que não garante mais a sustentação da construção de que ela é a base.

Há pessoas que não têm casa e vivem na rua. Outras vivem na rua como se estivessem em casa. Há pessoas que ocupam a casa, mas não fundam o lar e, por isso, permanecem alheias ao que lá se passa, como se lá não estivessem, como se o que ali acontecesse não lhes dissesse respeito, nada tivesse a lhes falar. São como presenças que não contam de ausências que muito falam.

Pessoas há que, sem casa, perderam-se, desentenderam-se e, aos poucos, nem isto perceberam, até o dia em que, chegado o momento de saturação, descobriram que não dava mais para continuar da forma como vinha acontecendo até então. Perguntaram-se: como foi possível? Que outro jeito agora se pode ainda dar?

O tema da casa é um tema que, de constante, haverá de nos acompanhar.

Há pessoas, como disse, que, sem casa, perderam-se; outras viram e viveram perdas em casa. Isto casa?

Há quem se case e se descase. Há quem de casa não faça caso. Quanto descaso! Por acaso? Por quais casos? Dentro ou fora de casa? Isso é obra do acaso? O que dizer dos que se perderam por casos e disseram que não faziam disso caso? Casas e casas. Uns fazem do lar só uma casa; outros, de uma única casa, fazem o seu lar. Por que será? Por que assim tem sido? Por que se comportar como se nada disso tivesse a ver consigo? Como se o tema da casa nunca fosse algo sério a se colocar?

Casa nós trazemos em nós, com ou sem nossos nós. E isso atualizamos em diversos momentos. Quantas moradas em casa há? Como interferem uns com os outros, esses que bem ou mal se querem? Quantos em casa esperam pelo que em casa não há? Casas e casas, e casam-se, cortam ou dão asas a que ou a quem? Nunca sim, sempre amém? Como se limite pra viver em casa nunca houvesse de se dar, colocam no lugar da casa – espaço do mais sagrado – coisas que não preenchem o vazio que na casa começa a habitar. No final de tudo ou mesmo por tudo, estamos todos voltando para casa, em dia e hora nunca dantes marcados, o que independe do nosso querer e de nossa vontade.

Quantos moram em casas, embora não se sintam lá? Quantas moradas em casa há? Compartimentos que são, partilhados ou isolados, cada um vivendo a sua individual morada, como se o conjunto todo não fosse algo a se considerar. Por isso, partidos, divididos, cindidos tornam-se os próprios atos desmentidos do que não conseguem mais falar. Sem considerar a verdade das lições de casa com tudo o que ela esteja a demandar.

Casas existem para serem ocupadas. Elas dizem mais respeito ao que se guarda no peito do que aquilo que se preenche dos vazios, onde ocupado ainda não está.

A despeito de todo vazio ou defeito, a casa é um espaço a ser construído e não algo a ser dividido pela ausência do que não pode ser compartilhado e assumido. Por falta desta compreensão, muitos vêm a se perder, em razões da mente e do coração, não sabendo localizar a razão de ser e de viver nesta ou naquela situação.

Pe. Airton Freire

1 de março de 2015
servos da terra

1“Eu sei em quem depositei a minha fé e eu estou certo de que ele tem o poder para guardar o meu depósito até aquele dia” (2Tm 1, 12).

Se a espera te parecer demasiadamente estendida, em proporção bem maior será a graça que te será dada, pela confiança obtida. Observa o regato em seu nascedouro e considera o rio caudaloso em que se tornará. Nasce jovem e desprotegido o que, tempos depois, em desenvoltura, liberdade madura alcançará. Mas, para que isso venha a acontecer, é preciso que o regato, em se transformando em rio, não venha a se perder.

Administrar-te, antes, é preciso, sem o que maior será o risco de que venham perdas a perder de vista a te desassistirem pelo que não pudeste conter ou porque, esvaziado, interrompeste com a fonte o fio de condução e alimentação. Por mais caudaloso que seja o rio, ele não possui, em si mesmo, razão de ser. Destituição constituída, consentida ou não, mas sem sentido.

Tu vives o espaço compreendido entre o já e o ainda não, ou seja: tu vives, no exato momento, um estado tensional entre o antigo – que ainda traz consigo os restos do que ainda é -, e um novo tempo, que já antecipa os sinais de sua chegada. Tu vives, então, um estado de tensão entre o novo que bate à porta e o que ainda resta antes de o novo, em definitivo, chegar. Prepara-te, pois, para que o novo não tarde; vê que em ti arde, intensamente, o coração, pela certeza de que está às portas o que virá como breve acontecimento.

Pela esperança, nós somos alimentados, e é a certeza do encontro que nos motiva e nos dá o encanto do achado. A chegada do novo que virá e a sua permanência, em grande parte, de ti dependerão; o que chega já dá sinais de que lá começou a chegar. É preciso que haja o ponto de entrecruzamento entre aquilo que tu desejas e o que está vindo ao teu encontro naturalmente. O que está em vias de acontecer, que traga consigo, também, a graça de permanecer.

Pensa, exatamente, sobre o momento que em ti esteja se encaminhando, alinhando-se para ocorrer pela virtude do que é permanente. Pois, se o tempo da espera trouxe consigo uma certa privação, também trouxe consigo uma lição. Que o fruto seja permanente, tendo o amor como condição. Guarda, pois, verdadeiramente, o sentido da espera e a razão do encontro. Que ambos deixem as lições que em tudo se encerra, mormente a de que só o transitório é permanente.

Pe. Airton Freire

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