“Com todos os elementos de um planejamento nem sempre, na vida, poderás contar. O contrário, porém, é o que ocorre com frequência. Viver, contudo, não significa planejar e executar. Nisso, não está tudo o que viver significa. Mesmo na aridez, um sentido para existir sempre haverá. O real é isto: a vida nem sempre dá o que dela se espera. Contudo, o sentido para viver a vida há de estar presente (to be present) como um presente (a gift) a ser conservado, malgrado as duras penas que isto custe. Viver é apostar na Verdade expressa em atos e não apenas em palavras. “Viver intensamente”, nos tempos de agora, parece soar como “aproveitar enquanto é tempo”, como se, por muito não se fazer, estivesse-se a perder algo. Cada um de nós responde às demandas a partir de suas potencialidades. Limites também para isto há. Com equilíbrio, enquanto possível, observando-se o ritmo que na própria natureza existe, é preciso administrar cada momento, sem ânsias ou padecimentos, pois a vida flui felizmente. Com diferenças administradas, com experiências de aprendizado obtidas (e, em novos contextos, atualizadas), será a vida rica de sentido. Crescer pelos internos da gente é caçar modos de não se tornar doente. Viver é ato surpreendente. Mesmo que para as demandas, respostas diversas, no universo do possível, possam-se dar, a que virá a calhar remete ao que, há muito, coincide com dois momentos: o de escutar e o de falar.” (Pe. Airton)
“O amor, que é tanto servo quanto amigo, tanto é sábio quanto humilde, seja, em tudo, a condição para que não venhas a sofrer o sem sentido de viver só por viver. O que torna a alma vazia, fazendo-a estarrecer, vem pelas asas da solidão acompanhada, a mais sentida e pouco nomeada, cujos atributos formalizam o contexto do desamor: frieza, mesmo quando no calor; esvaziamento (tristeza), mesmo quando em meio a risadas; e indiferença, malgrado apelos por compaixão reiterados.”
Pe. Airton Freire
“Um dizer que corresponda a um fato tem sido tomado como algo equivalente à verdade. Esse, contudo, é apenas um aspecto que dela se pode dizer, pois a verdade, afinal de contas, é aquilo que pela palavra plena te revelará, exatamente, o lugar onde tu estás, sem que tenhas antes percebido este lugar. A verdade é mais do que a adequação da palavra ao fato, quer resulte em autoconhecimento ou em conhecimento da realidade. Ela vem pelas vias do que a palavra plena revela do lugar onde nem sempre tu reconheces estar. De que forma não reconheces? Ao resistires a descobrir onde e a partir de que momento tu passaste a viver o que não correspondia à mais íntima verdade que há em ti. Qual verdade? A de que és um ser de falta e, enquanto faltante, demandante. E preenchimento para essa falta em objeto algum haverás de encontrar. Em assim sendo, a verdade está em descobrir-se como um ser de falta, esta gerada na ruptura do amor primevo, imaginariamente construído, e, por ele, como por uma inscrição, marcada. Essa falta, que demanda preenchimento, é a matriz de toda busca humana. Em razão disso, vive-se, por vezes, à deriva, num conflito entre o querer e o desejar. A verdade há de ser dita e falada para que o teu espaço possa ser reconhecido e aclarado, e, nele vindo a te situar, possas, a partir dali, dar novos passos, como ser de desejo, assumindo um projeto e a tua própria história, esta que, nos tempos de agora, totalmente não consegues enxergar. A ignorância quanto a esse lugar de ser errante e errático é o que nem sempre reconheces. Em razão disso, por vezes, desejas o que, intimamente, não queres e, outras vezes, queres o que, intimamente, não desejas. ” (Pe. Airton)