“Eu preciso rezar até às evidências e não transparecer assim um ar de tolice ou grande demência. Eu não posso mais protelar. Eu posso, até, a ocasião propícia esperar para agir, mas a decisão de agir, esta eu não posso evitar. Eu preciso perguntar quais as coisas que retornam, que estão em volta de mim. De onde elas surgem? Por que surgem? E por que teimam, insistem em querer voltar? Sejam de que natureza forem, venham por meios quaisquer que venham, essas coisas existem, e sobre elas eu preciso discernir para me posicionar, para também saber, no momento devido, como abordar. Aquele que te criou – acredita – não vai abandonar a obra de suas mãos. Ele dá continuidade à obra iniciada. De tua parte, precisas discernir a fim de que chegues ao ponto de largada. Isso que mais interiormente me comove, inquieta-me, constrange -me ou me alegra, que me faz rir ou chorar, quando começou? Quando se iniciou essa caminhada, essa coisa não estancada semelhante à sangria? Aquilo que iniciei e que não concluí, eu preciso fechar. Aquilo que deixei em aberto é semelhante a algo que eu deixei descoberto. Aquilo que eu deixei por concluir é semelhante a vir sem ir, a querer esquecer e ter que se lembrar. Eu preciso concluir o que, um dia, iniciei e saber como retomarei. Eu preciso, também, ter a coragem de avaliar, a coragem de entender por onde é possível recomeçar, para não desgastar nem me desgastar, para não ter que cobrar nem permitir que venham a me cobrar.”
Pe. Airton Freire
“Que venhas tu te preparando antes para o momento em que, de forma serena, sincera, coerente, amena, tiveres de optar. Que a tua decisão já tomada não seja precipitada em ser anunciada. Avalia, traz a decisão ainda por dentro, tenta refazer ainda pontos pendentes, em posteriores momentos, para que não venha a te desculpar pelo que tiveres deixado de fazer atualmente. Não venhas tu a te culpar por não teres estancado a sangria. Que não se tome qualquer decisão à revelia, pois, o que vier a acontecer a não acontecer poderia. E aí? Não sejas precipitado no dizer nem no fazer, pois, a decisão mesmo interiormente já tomada, precisa amadurecer. Que o Senhor te ilumine quando isto tiver que acontecer. Sobretudo, se pessoas próximas a ti, e por Deus tão amadas, em tua decisão estiverem implicadas. Que o Senhor te ilumine quando tiveres de optar, tiveres de decidir, e algo de verdadeiro e mui sério tiveres de anunciar. Lembra-te de que um fato é um fato e, uma vez acontecido, não se pode mudar. Pode-se mudar o posicionamento, a compreensão do acontecido no momento; quanto ao fato, ele próprio não se pode mudar. Lembra-te de que a palavra também faz ato. A palavra reifica, presentifica, traz a coisa, torna-a presente. E o teu presente é o teu melhor presente. O presente é a tua presença, malgrado possa haver a quem tua presença presente não esteja. Há presenças que nem são presenças, são até uma forma de se evitar, como a dizer: estou aqui presente para te negar naquilo que sobre mim vieres a demandar.” (Pe. Airton Freire)
“Ao se ter fé, coloca-se a questão, como divisor de águas, do que é idílico, do que é possível. O idílico faz parte da natureza dos sonhos: sonhos não sonhados, sonhos acordados, sonhos mal dormidos, sonhos realizados. E o que é possível é aquilo que se torna presente a partir das condições que o sujeito traz consigo num determinado momento. Se o teu desejo coincidir com o desejo do teu Pai que está nos céus, este ponto de congruência resultará ser possível algo de novo acontecer. Se entre ti e aquele que mais próximo de ti estiver houver pontos coincidentes, é muito possível que a ação dos dois seja convergente e aí possam se encontrar. Em não havendo pontos de coincidência, tentativas haverão, até jogo de sedução, apelos decifrados ou semi-decifrados, rogos, pedidos… mas, nunca se farão encontrados. Por isso, procura, neste exercício, neste ponto de tua caminhada, distinguir o idílico do possível.” (Pe. Airton Freire)