Questionar o matrimônio, nos limites de sua crise atual, para preservar dele sua razão de ser como espaço de geração da vida e participação no processo criador, o que inclui, também, o cuidado com os filhos, implica se referir ao conjunto de princípios fundamentais que o norteiam. Face a uma crescente onda de apresentá-lo como espaço de convivência, com um fim em si mesmo, que não a precípua razão de expressar amor e respeito mútuos, pela vida partilhada um com o outro e com os filhos, há que se reafirmar não haver outra principal razão de ser dessa específica relação a dois e que isso constitui o “núcleo comum sobre o qual convém não ceder”. Essa referência, nesses termos, ao matrimônio, poderia servir de suporte para a compreensão do que ele vem a ser.
Há, no matrimônio, uma ética e uma deontologia que implicam em ter claros objetivos quando vem a acontecer. Assim posta a questão, pode-se, a partir daí, ter a medida de referência capaz de responder a eventuais disposições regulamentares (em parlamentos já aprovadas) suscetíveis de querer modificar o estatuto do matrimônio. De outra parte, para dar apoio à implantação eventual de estruturas novas, como, por exemplo, a participação e a responsabilidade da mulher na vida social e familiar de forma conciliada, é preciso distinguir entre as práticas oriundas um modelo patriarcal e conservador e princípios inerentes ao lugar único da mulher na sociedade, a partir da família, cuja ausência traz consigo graves prejuízos para a saúde dos próprios filhos. Embora nem sempre tais questões tenham sido bem compreendidas (emoções afloram rapidamente, a partir desse tema, sob o já conhecido embate de homem X mulher), um número crescente de pessoas tem se engajado a trabalhar pela afirmação e defesa da instituição familiar.
É possível formar e informar àqueles que se interrogam sobre a razão de ser do matrimônio como sendo ali o lugar possível da demanda consciente e humana de “não ser bom o homem ficar só” (Gênesis). É também possível, aos que se interrogam sobre a especificidade da vida matrimonial, deixar claro seu valor e seu lugar, hoje, apesar da fragilidade das relações, no campo social, com desdobramentos tantos para a vida de todos os indivíduos. Os que, nos princípios que marcam a razão de ser da família, reconhecerem-se, serão convidados a sustentá-los, isto é, mantê-los.
Pe. Airton Freire