“A palavra, humanamente dita, não recobre, ao se dizer, toda a realidade. A partir dela, contudo, estabelece-se um interdito, um divisor de águas. Se não for dita, muita coisa deságua. Não é a palavra, todavia, a única via de comunicação. O sujeito de fala, mesmo quando nada diz, produz gestos, atos, sinais postos a serem decifrados, que remetem à verdade, a fim de que se estabeleça um vínculo, um pacto, que resulte num ponto que o coloque mais próximo à sua própria realidade. Que à verdade ligue-se tua fidelidade. Ao que acreditas deves tu fidelidade primeiramente. Depois, estender-se-á isto a quem estiveres ligado afetiva e efetivamente. A verdade da relação entre os humanos torna-os mutuamente ligados. Num mesmo projeto comprometido, decidido, há de se levar às últimas consequências o que se tomar por acordado, resolvido. Nisso está a força do comprometimento. Pela fidelidade passa-se a honradez, amor à verdade, singularidade. Podes tu imaginar se na tua palavra viesses a negar um projeto feito em comum e que somente na verdade poderia continuar? Foi nessa certeza da verdade do Outro que os discípulos de Jesus disseram: “esta noite, nada pescamos; mas, na tua palavra, lançarei rede ao mar” (cf. Lc 5, 1-11).” (Pe. Airton)