Aos Grupos da Terra:
MA, PI, CE, PE, AL, BA, MG, ES, Marseilles, Londres e Estados Unidos
“Se o teu olho for bom, todo o corpo será luminoso” (Mt 6, 22)
Na vida, é preciso ter um olhar capaz de enxergar além de ver. Diferença existe entre o olhar e a visão. A visão pode se dar independentemente até do ato de querer olhar (basta enxergar!) e pode vir acompanhada de elementos que geram espaço da ilusão (o que põe a nu uma das funções do olhar).
O olhar que não vê só se vê e, por isso, outrem não consegue enxergar.
Quando o olhar não se adequa à visão ou quando a visão ultrapassa a capacidade de olhar, ocorre um desequilíbrio no ato de querer enxergar.
Se o teu olhar não consegue enxergar, malgrado o que se possa capturar, algo é preciso fazer. Estás diante de dois determinantes acerca dos quais hás que te posicionar, pois pode acontecer que a tua forma de ser e consequente proceder resultem de algo que já tenha feito morada em ti, não obstante o teu não querer. Isso pode se romper, independentemente de tua vontade.
Podes enxergar algo que não corresponda, plenamente, à realidade. Podes não enxergar o que é próprio do teu viver. Pois, a partir de um olhar, que não seja o teu, mas de um outro, tu poderás ver. A partir de um querer, que seja um querer do outro, tu haverás de balizar a tua forma de ser. Então, a visão que daí resultará te possibilitará enxergar-te nos pontos que te farão de limites e potencialidades tuas consciente. O outro pode tanto te esconder quanto revelar a verdade que está a tua frente.
Precisas discernir, primeiramente, a razão do teu olhar e a qualidade da tua visão, pois nem toda evidência, aquilo que captura o teu olhar, pode dizer da verdade única da realidade. Por quê será? Convém falar: a forma que tu tens para enxergar é condicionada por um paradigma, este convencional e humano, que te permite de determinada maneira enxergar. Mudando-se o paradigma, mudará também, consequentemente, a tua forma de enxergar. A nada convém, portanto, absolutizar. Absoluto existe um, o Senhor, que, por sua natureza própria, é somente amor e, enquanto amor, de constante, ele se dá. O que fugir a essa regra precisa ser questionado, a fim de que nenhuma visão, nenhum olhar, seja absolutizado, a partir de determinada situação que estejas a vivenciar.
Pe. Airton Freire
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“Prata e ouro não tenho” (At 3,6)
Há fascínios e fascínios.
O fascínio se torna inadequado quando perde o referencial estável que o torna possível e passível de ser bem executado. Para bem executar, não é preciso bem fazer, mas, sobretudo, ficar atento às consequências que cada ato possa ter.
O que torna o fascínio inadequado traz em seu bojo algo que possa obliterar, fechar, impossibilitar a abertura para novos conhecimentos, por perceber de forma superlativa o que é apenas um ponto de vista. O olhar, partindo de um específico lugar, não pode ver tudo no todo que diante de si está.
O que leva o inadequado do fascínio não conduz a nenhuma superação, porque, fascinado, torna-se aprisionado à visão daquilo ou daquele que o cativa, não deixando margem para outra opção. Num bloqueio do coração e da mente, tal fascínio resultaria num avassalamento, num assujeitamento, quebrando todas as possibilidades de se vir a retomar o equilíbrio onde coração e mente poderiam cooperar exatamente.
O inadequado do fascínio vem pela sua absolutização, pois, uma vez absolutizado, ao objeto percebido tornar-se-ia o sujeito assujeitado. Cativo de sua própria visão, o sujeito não terá como fazer emergir, a partir daí, uma outra possibilidade que não seja aquela, por desconhecer qualquer uma outra que venha a questionar ou mesmo a complementar a opção primeira.
O inadequado do fascínio acontece por se perder nele qualquer referencial estável e por se tornar o sujeito preso a um determinado e determinante dado, qual se fosse um fardo.
O que fascina pode facilmente te levar a ganhar ou a perder, a depender do ângulo pelo qual tu olhas a realidade, a partir do sentido que isso para ti possa ter.
Há um sem sentido que é um desmentido ao que te faça querer viver. Pelas asas do que entorpece, embevece, mas não deixa viver. Se o preço da aprovação for a provação, ao coração convém lembrar que, estando por algo fascinado, sem que se perceba, desmontes ou remontes podem acontecer em muitos planos.
Se teu ser, por teu olhar, sentir-se fascinado, examina se isso te ajuda a compreender e a viver melhor e com verdade. Só o que na realidade tiver justa adequação é que valerá a pena continuar. Do contrário, viverás o sem sentido de apenas fascinar-te ou fascinar, sem que a termo algum isso possa te levar.
Há problema em toda fascinação decorrente de atos que te levem à submissão e não à superação de quaisquer elementos que tornem tua alma doente. Pelas consequências do fascínio, tu podes perceber se ele é ou não a ti pertinente.
Se assim procederes, a esperança, que tem nome, virá para ficar, e teu coração, de esperança também transbordado, poderá retornar ao mundo fascinado pela forma adequada como passarás a te portar. Serás, então, arauto da esperança, aquele que traduz em sua forma de vida o que contraria qualquer ânsia e desejo de desistir.
Reagir pelo que faz sentido e não fazer, da vida, atos desmentidos é preciso. Isso equivale a dizer, na esperança, estou aqui.
Pe. Airton Freire
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“Vigiai” (Mt 26,36)
Existem esperas que conduzem a um encontro, e existem demoras que levam ao abandono. Os que se sentem abandonados têm a esperança por esquecida; há, contudo, que alimentá-la, recuperá-la plenamente em tempo devido. Aqueles que se sentem abandonados podem ter a esperança ao seu lado a lhes fazer viver, e os que, esquecidos dela, estiverem, sobreviverão. Contudo, não terão uma razão mais profunda de ser nem de viver.
Qualquer que seja a situação pela qual venhas tu a passar, qualquer que seja o oásis ou o deserto em que tu possas estar, acalenta a esperança. Não desanimes e jamais a ninguém ensines que não vale a pena a esperança ser cultivada, pois, se ela de ti se afastar, assim como com aqueles que são exilados, difícil, depois, será voltar. Poderá acontecer que a esperança, de ti desligada, deixe tua alma insaciada acerca de coisas que em seu lugar tu teimes em colocar. Por mais coisas que venhas tu ali a depositar, continuará ainda a brecha, o espaço de ausência, reclamando a esperança. Melhor é que te (res)guardes para o devido momento em que a esperança, alimentada, vença reais, possíveis ou imaginários sofrimentos dentro ou fora de ti.
Acalenta a esperança. Nada faças por desacreditá-la, pois, se isso vier a acontecer, tua alma não suportará a solidão, essa travessia em deserto, e, em breve, mesmo acreditando-se viva, há de morrer.
Alimenta a esperança, a que, posta em Deus, não te decepcionará, pois Ele é o primeiro interessado a levar a bom termo a obra que, um dia, em ti, Ele quis iniciar.
Pe. Airton Freire